Liderança combina com Literatura?
- celsonhupfer
- 17 de abr. de 2024
- 4 min de leitura
Por que a boa leitura ajuda a formar melhores líderes?
Desde muito cedo somos estimulados a separar o mundo e as questões da nossa vida em, digamos, caixinhas. Algo como que classificar ou separar as coisas, os acontecimentos, as pessoas, os ambientes, tudo afinal. Isso torna mais fácil a compreensão do mundo. É assim também que o conhecimento e a ciência se organizam. Possibilita comparar, analisar, fazer previsões etc.
Ainda jovens cada um vai fazendo escolhas de vida: alguns optam por seguir uma educação na área de exatas (a matemática, as engenharias, a estatística etc.); outros seguem o caminho das ciências da natureza, como a biologia, a química, a medicina, entre tantas; outros ainda vão se educar no que chamamos de humanidades e artes, como a sociologia, a filosofia, a psicologia, as belas artes e assim por diante. Normalmente estas escolhas sugerem o caminho profissional que adotaremos mais adiante, quando adultos. É verdade que muitas pessoas não têm nem como fazer essas escolhas, ou porque não possuem as condições financeiras, ou porque não se sentem suficientemente prontos, ou ainda porque seus pais insistem que as escolhas deles são as melhores para os filhos.
Para muitos de nós parece que quando se decidiu seguir por um caminho, este não se comunica com os outros ou, no máximo, os outros caminhos passam a ser apenas objetos de curiosidade, hobbies ou oportunidades de lazer. Vamos criando especializações e vamos meio que nos fechando no campo escolhido. Parece até que não dá para perder tempo com coisas que não estão diretamente ligadas ao nosso campo de conhecimento ou à nossa carreira. Daí que líderes, que muitas vezes têm muito pouco tempo para ler, frequentemente leem somente sobre melhores formas de gerenciar pessoas, sobre como dar um bom feedback para seus colaboradores, sobre técnicas de comunicação ou maneiras e técnicas de extrair os melhores resultados de sua equipe. De vez em quando, eles se permitem até conhecer a história de algum grande líder de sucesso, de preferência do mundo das organizações. É o que chamamos de conhecimento instrumental, um conhecimento que está a serviço de algo, que visa uma utilidade.
No meu caso particular, confesso que nunca me interessei muito pelos textos de gestão de pessoas e pelos manuais de liderança. Da mesma forma não gostava muito dos programas de formação de líderes. Não sei exatamente por que isso não me interessava. Nada contra. Só não me despertavam atenção. A verdade é que, desde muito cedo, eu me interessava por temas que não tinham uma relação direta com a administração, tanto de negócios, quanto de pessoas. Desde a infância eu havia sido estimulado a ler livros de literatura e aquilo era de um prazer sem igual, porque me levava a viajar com as personagens e com as suas estórias. Um pouco depois, na juventude, fui apresentado às humanidades em geral, à filosofia, à sociologia, à psicologia, à história e à antropologia. Eu queria muito compreender os porquês, os “oquês”, os “comos” da minha própria vida, da vida dos outros e das relações entre as pessoas e as comunidades. Até mesmo a escolha da faculdade teve a ver com isso: eu entendia que precisava optar por uma carreira que me permitisse ganhar algum dinheiro, porque eu vinha de família bastante humilde. Ao mesmo tempo, não queria ficar longe daquilo que eu mais gostava. A opção por economia parecia resolver a questão, pelo menos naquela época, quando ela ainda não tinha tantas pretensões à certeza matemática. Talvez se eu tivesse continuado na carreira de economista eu também tivesse que me especializar mais. Não sei.
Como eu não queria gastar meu tempo lendo sobre gestão e negócios, eu podia me afundar naquilo que realmente me dava prazer, a literatura em especial. O tempo permitiu que eu pudesse perceber que a literatura tinha muito para me ajudar no dia a dia. Ela retratava personagens com as mais diversas psicologias, se defrontava com as mais complexas questões do mundo e descrevia todos os tipos de relacionamentos imagináveis. Como dizia um dos meus autores prediletos, Dostoiévski, as personagens e os acontecimentos são reais e podem ser encontrados sempre entre nós. O que o romancista faz é exagerar um pouco na tinta, para que seja melhor apreciada. Ou seja, aquelas personagens, aqueles eventos e aquelas questões que os mobilizam são parte das nossas vidas cotidianas. Aos leitores, além da fruição das narrativas e suas particularidades, cabe identificar como, onde e quando estas questões se manifestam nas situações do dia a dia. E, por isso, as respostas ou suas faltas podem nos ajudar muito, porque, afinal de contas, liderar ou gerenciar pessoas é conhecer as suas psicologias, as suas questões (os porquês), as relações que elas mantêm ou não com outros e conosco mesmos. Na vida cotidiana há situações para as quais conseguimos respostas, mas outras que simplesmente precisam ser deixadas como se apresentam. E isso, além de literatura, é também filosofia, sociologia, psicologia, antropologia, vida cotidiana. Basta estar atento ao que ela nos tem a dizer.
Entendo que um blog sobre liderança também tem tudo a ver com literatura e com as humanidades em geral. É lá que são estudadas, analisadas ou “exageradas” as questões das pessoas e de suas relações, que são os objetos principais de qualquer líder. Nos próximos textos vou compartilhar com vocês as minhas leituras prediletas. Nem sempre vou conseguir estabelecer as relações com o cotidiano. Mas talvez isso meus leitores façam melhor do que eu. Vou dedicar especial atenção aos meus autores prediletos, os clássicos da literatura russa e francesa do século XIX. Tenho um especial apreço por Dostoiévski em função da complexidade psicológica de seus personagens. Mas vou comentar outros também. Será muito bom saber como estes textos impactam vocês. Incentivo todos a comentar, criticar, sugerir etc.
A abordagem pessoal do autor e seu convite à reflexão tornam a leitura cativante e inspiradora, reforçando a importância do diálogo entre a literatura e o mundo dos negócios. Parabéns ao autor!
Parabéns pelo blog ! Em tempos de pouca conversa , pouca profundidade e 30 segundos de vídeos de Tik Tok, Escrever e Ler são atos de resistência
Estou curtindo! 👓